Escritor de Viela Ensanguentada, Wesley Barbosa: da periferia de São Paulo para o Mundo
“Eu lia muito, eu já gostava de escrever, mas eu comecei a ler bastante no ensino médio, comecei a frequentar a biblioteca, que para mim é um lugar sagrado..”
Wesley Barbosa não sabe precisar exatamente desde quando escreve, talvez desde os seus nove anos de idade, do tempo que morava em Itapecerica da Serra, grande São Paulo, e frequentava mais a biblioteca da escola do que a sala de aula e, apesar de ter repetido de ano, aprendeu mais sobre literatura do que nas próprias aulas, por sorte, os professores que entenderam sua paixão por livro, não acharam justo e o aprovaram para o outro ano.
Foi com Machado de Assis, Jorge Amado, Hermann Hesse, Fiódor Dostoiévski, Carlos Drummond de Andrade, Carolina Maria de Jesus, que o jovem Wesley, inserido num contexto de vulnerabilidade, que o impunha à fome, à violência policial, na periferia onde morava, que ele alimentava sua imaginação, construindo uma realidade paralela a tudo isso.
A lista é incontável, porém foi o contato com a literatura que despontou nele o desejo por se tornar um escritor. Hoje são seus livros que estão nas prateleiras de bibliotecas e de escolas públicas, um lugar considerado especial para ele. “Eu lia muito, eu já gostava de escrever, mas eu comecei a ler bastante no ensino médio, comecei a frequentar a biblioteca, que para mim é um lugar sagrado, no sentido de que eu estou adentrando o universo de escritores da antiguidade, escritores modernos, e com isso eu posso viajar através das palavras”.
O escritor tem cinco livros lançados: O diabo na mesa dos fundos (2015); Parágrafos fúnebres (2020); Relato de um desgraçado sem endereço fixo (2021) e Viela ensanguentada (2022). Ele sempre vendeu seus próprios livros, esse ano, pela primeira vez, lançou seu último título: Pode me chamar de Fernando, pela Numa Editora, mesmo gostando da experiência, não descartou a prática de vender de maneira autônoma: “Para mim, eu vender os meus próprios livros é uma forma de sobrevivência no mercado editorial, porque de certa forma eu acabo criando meu próprio mercado editorial”, comenta.
Conexão Itapecerica da Serra – França
Com mais de 10 mil exemplares vendidos no Brasil, suas palavras também viajam para fora do país, brasileiros que moram em Portugal, EUA, Alemanha, México, Argentina, encomendam seus títulos preferidos, que Barbosa divulga em sua rede. Em parceria com a editora BR Marginália, Viela Ensanguentada (2022), seu penúltimo título, será traduzido na França no começo do ano que vem.
A idealizadora da editora, a baiana Nichelle Teles, que reside há cinco anos na França, enxerga uma possibilidade maior no mercado editorial de lá do que em seu próprio país e apesar da França ter uma imagem estereotipada do Brasil, há nisso, ao mesmo tempo, uma abertura: “Aqui na França eles têm uma atração pelo Brasil muito grande, sabe, com o Zé Pequeno, Cidade de Deus, com futebol, com samba, com carnaval, enfim, clichês, mas que permitem que a gente possa criar pontes entre o Brasil e a França”, explica.
Sua intenção com a tradução do livro é inserir a literatura periférica afro – brasileira também nas escolas e a pessoas que também estão invisibilizadas: “A ideia nas escolas é de incentivar os alunos das periferias aqui na França, das pessoas que estão em margem, que são marginalizados pelo Estado francês”.
Para a editora, essa conexão tem um propósito ainda mais amplo, que é quebrar um padrão eurocêntrico de consumo na literatura, que acaba corroborando na construção de uma visão distorcida: “É um meio de descolonizar a literatura. Quando eu falo descolonizar, não é porque a literatura periférica vai dominar o mercado editorial francês, mas é que não seja uma só narrativa que sempre esteja sendo difundida aqui na Europa, que é a literatura principalmente branca, das elites que falam do mundo a partir de um ponto de vista único”.
As obras de Barbosa já circulam nas periferias, de Sudeste a Nordeste as escolas da rede pública de ensino e professores adotam seus livros para trabalhar em sala de aula.
“Para mim é incrível, porque eu não esperava que um livro meu chegasse um dia a ser traduzido. Então, o Viela Ensanguentada, que é um livro que tem um pouquinho mais de um ano, já está me dando essas alegrias de ser lido em várias escolas da periferia, escolas do Ceará, escolas de São Paulo, e agora ter alguém interessado em traduzir”, comemora o autor.
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